Vertical na Penha, melhor que um Rajá!

Teria 4, 5 anos!?
A memória primeira que guardo da Capela da Nossa Senhora da Penha é a de uma concorrida romaria de maio com direito a gelado Rajá e a uma fantasia capilar de índio. Terá germinado nessa altura a minha devoção adolescente pelos westerns e a minha paixão perene pela serra da Penha, também denominada Monte de São Tomé em homenagem ao supostamente ermitério existente junto à Cova da Moura, hoje uma ruína completa, detectável apenas de forma vestigial.
Rajá, o melhor que há!

Fui criado no vale da ribeira da Água da Prata - sim, ribeira da lixosa tornava-se mais a jusante após passagem pela poluente fábrica de lanifícios que durante décadas ajudou a sobreviver tanta família portalegrense inclusive a minha - a meio caminho entre a sumptuosa igreja do Bonfim da talha dourada e esta singela e altaneira Capela da Nossa Senhora da Penha. O ícone Cruz da Penha ainda lá se encontra e os verões da minha adolescência foram passados em correrias por essa serra, nomeadamente pelo topo da sua fabulosa crista granítica, com os amigos que na altura ainda habitavam várias casas modestas hoje completamente em ruinas existentes serra acima. Dias de aventura. Tanta aventura que eu vivi nesta serra, grande parte delas em passo de corrida.

Em 1976 (?) lá realizei a minha primeira competição na tradicional corrida da festa mariana que a confraria organiza em maio, no final dos anos 70 inícios dos 80 lá realizava os meus fartleks, no ano 2000 lá organizámos o Campeonato Nacional de Corrida de Montanha da FPA quando a Vitorina e o Vítor davam cartas nessa especialidade desportiva então pioneira, em 2011 lá começámos a procurar trilhos para o UTSM e a desistir, em 2015 e 2016 por lá conseguimos fazer passar o UTSM e aí instalar um PAC, em setembro de cada ano por lá fazemos passar 2 a 3 centenas de pessoas na corrida/caminhada informal Portalegre à Noite por Trilhos, ontem lá regressámos para a edição inaugural da Corrida Vertical da AADP.
Pela primeira vez paguei para subir a escadaria e subir à Cruz - um valor que em 1966 teria dado provavelmente para comprar os Rajá todos e provavelmente ainda o frigorífico onde os guardavam :) - e com isso gracejava nos sempre nervosos minutos que antecediam as 18 h 41 m, momento que nos estava destinado - a mim e à Vitorina - para iniciarmos o contra-relógio que nos lavaria do início dos 265 degraus da fantástica escadaria até praticamente à Cruz. Um desafio desportivo interessante - advogo que o Atletismo só tem a ganhar associando-se a percursos icónicos para as populações - que reuniu nesta primeira edição mais de 100 concorrentes.
Para ambos foi um desafio mais que conseguido. As últimas semanas têm sido complicadas no que diz respeito à gestão de mazelas. A Vitorina praticamente não treinava há 2 meses e eu na antevéspera praticamente nem conseguia por o pé no chão. Mas, escutada a contagem decrescente 5-4-3-2-1 do Hélder, foi avançar rumo ao objetivo. 10 lanços de escada com 25 pouco altos mas longos degraus em média, com patamares intermédios que o arquiteto concebeu rodeados de bancos para descanso dos penitentes mas que nós atletas apenas podíamos usar para uma expiração ligeiramente mais demorada. Tinha pensado correr em metade dos degraus de cada lanço e progredir em passo acelerado nos restantes mas a Vitorina brindou-me logo com os 2 primeiros lanços a sprintar. Toda a estratégia teve que ser reformulada e chegar ao coreto pejado de público a incentivar gritando o nosso nome - na verdade só ouvia Vitorina!, Vitorina! e ouvia risadas porque aqui o míster ia uns degraus atrás ;) -, embelezado com um belo pórtico onde se podia ler a maravilhosa palavra Portalegre, exigiu esforço mais que suficiente para a Meta ser já ali. Mas não, ainda a procissão dos esforçados eremitas de camisolas de cavas ia a 1/5.
Foi avançar aos soluços, ora correndo, ora caminhando energicamente, para alcançar a ambicionada Meta, montada bem para além da Cova da Moura praticamente em cima do acesso final à Cruz, tão só 10 m 18 s após o início do esforço titânico (10 m 40 s para a Vitorina que ficou 2ª a tão só 3 s da vitória feminina absoluta).  Melhorei o meu segmento STRAVA em 1 m 20 s e fiz praticamente apenas mais 3 minutos que Luís Semedo, o grande vencedor. Um desempenho excelente para ambos, não houve dor alguma no chassis durante a corrida e no final sentia-me um índio pele-vermelha uivando no seu cavalo branco sem sela!
34 lobos correram a Vertical inaugural, 1/3 dos participantes!
Os uivos de alegria continuaram noite fora. Após uma espetacular cerimónia protocolar montada na altaneira escadaria da Capela, e de um faustoso jantar servido pelo Clube Motard Novo Milénio, foi pular, encervejar, cantar e dançar até à uma da madrugada rodeado de gente boa, positiva e divertida, os lobos e lobas do ACP - Atletismo Clube de Portalegre e mais alguns amigos. Excelente romaria, a da Corrida Vertical.
Uma palavra final para a Organização pertencente à AADP - Associação de Atletismo do Distrito de Portalegre. Excelente. Para além do evento desportivo organizado sem qualquer falha, conseguiram associar-lhe uma sunset party num cenário maravilhoso. Ninguém me paga para fazer elogios e não confundo amizade com palavras doces de ocasião. Portalegre faz bem, as Organizações de Atletismo da nossa cidade são por norma excelentes. Muitos parabéns. Queira São Tomé, queiram as santinhas todas, queira Deus e em 2019 lá estarei de novo. Eu quero.

Resultados completos do evento.



Uma prova pensada para "me lixar": sempre a subir.

Feliz por liderar uma equipa assim!

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