Subir à Pironga à noite
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Se uma terra se chama Vaiamonte e outra se chama Monforte é impossível que entre elas não haja montes. Há. E logo a seguir a Vaiamonte temos uma bela subida à Pironga (D+ 114 m em apenas 670 m). Mas foi à noite, não se viu.
Tudo começou passava das nove, já com atraso, em frente à igreja de Santo António de Vaiamonte. Centena e meia de pessoas - por favor parem de nos chamar "atletas" - partiram debaixo de grossos pingos de chuva para uma aventura. Como estradista assumido que sou foco-me na distância (21 Km, coisa para um pouco mais de hora e meia, mas depois como sei que é trail dou-lhe, vá lá, mais 1 hora) e penso que é dar-lhe gás e acabá-la. Mas tudo se desvanece um pouco adiante.
Começa pelas Partidas. No movimento running não há cá hierarquias e muita gente embora sabendo que sistematicamente se classifica no último terço insiste em partir da linha da frente. É o primeiro obstáculo a ultrapassar. Neste Vaiamonte - Monforte até nem foi das piores partidas.
Parti cauteloso e cauteloso continuei. Sou de cautelas, é o que me safa e mesmo assim nem sempre me acautelo o suficiente, que os obstáculos a ultrapassar surgem de todos os lados e quando menos os esperamos. Após alguns metros com o regressado António Costa que, pasme-se, já é M40, que idade não terei já eu (?), o melhor é nem perguntar, entrei no meu ritmo e na primeira fase bonita da prova, até cerca de metade. Boas marcações, trilhos corríveis mas exigentes e dou comigo outra vez na disputa da corrida ... feminina ... entre lobas! Endiabradas a Ana Miranda, a Mariana Leirinha e a Carla Semedo que competiam entre si de forma generosa e comprometida. Como o Desporto pode ser lindo quando as pessoas o assumem descomplexadamente, como estas jovens. Dão o máximo porque assumem o jogo mas sem tiques de coisa nenhuma. Corredoras, simplesmente corredoras. Não sabia em que lugar ia no meu escalão M55 e não me importava ... mas ia a gozar a oportunidade de assistir a cada pormenor da frente da corrida feminina. Por apenas 15 € de bilhete, todo um espectáculo.
Paro no abastecimento, elas nem param, passo pela Vitorina que está presentemente parada a tratar uma mazela, nem me via só puxava por elas. Tive que regatear a minha dose de incentivo. Também preciso!
Tudo corria lindamente até chegarmos ao estradão que liga Vaiamonte ao empreendimento turístico Torre de Palma Wine. Terá sido pelo wine em demasia no cérebro de alguém, terá sido por malvadez pura e simples que os tempos vão propícios para impunes demonstrações públicas de estupidez e maus instintos, no local mais improvável para enganos desapareceram marcações e, sobretudo numa prova nocturna, facilmente se destrói a moral de quem passa dum ritmo frenético para a procura do caminho por onde seguir. Mais adiante as marcações aparecem de novo com o bom padrão de marcação que tiveram ao longo de toda a prova mas, na entrada na propriedade já citada, duas cancelas iam sendo sistematicamente fechadas sempre que alguém as transpunha. Tive sorte no meu ajuntamento. Alguém mais perspicaz viu os reflectores além das cancelas, lá as abrimos e seguimos, de novo com a moral destroçada. Antes e logo após, soube-o por relatos de outros concorrentes, as cancelas voltaram a ser fechadas e as marcações dissimuladas. Houve quem fosse parar ao lodo de uma charca que estava nas imediações. A quem interessa estes procedimentos? Será que não gostam de ver Monforte invadida por centenas de pessoas que lá vão deixar sorrisos, gargalhadas e dinheiro?
O resto da prova foi a gerir. Entrou-me frio, na verdade íamos a caminho da meia-noite, e tive que me socorrer de umas luvas que em boa hora colocara no excelente cinto free belt da compressport que comprei ao Bancaleiro e no qual agora carrego tudo. Na subida às antenas e ao 2º posto de abastecimento mais umas titaradas que também se resolveram pelo excelente espírito de entreajuda dos concorrentes. Vi a Ana fugir para a frente com o Pedro Tavares que corre sempre muito bem de menos a mais, acompanhei a Mariana e a em boa hora regressada Vanda Rosa numa bonita disputa pelo 2º lugar da geral, fazendo de guarda-costas a ambas, gritando para abrir a passagem para que passassem nuns belos trilhos estreitos por onde passeavam insensíveis participantes na caminhada que ainda acham mal - alguns - que se lhes solicite um antecipado ligeiro desvio. Nem toda a gente aprecia como eu poder viver um grande evento bem por dentro. Acabei como previra. 2 h 30 m 31 s reais (2 h 32 m 20 s para o chip da Organização !!??) na 36ª posição entre 142 finalistas, parece que 1º e único M55 que a malta da minha idade começa a não ter o juízo que ainda não me falta. Prefiro apanhar uns empenos e uns cagaços - dentro do razoável - e continuar mudamente a gritar: - Estou vivo!
Não vou tecer grandes críticas à Organização mas de facto não esteve bem em vários pormenores técnicos importantes. Quis fazer uma coisa em grande em aspectos paralelos e terá sido ultrapassada pela dimensão do que quis criar. Mas isso são amendoins. Da minha parte toda a força para meterem ombros a uma terceira edição. Reúnam mais gente boa que a há por certo em Monforte e mostrem a quem não presta que realmente não presta. Obrigado pelo empenho e pela pequena aventura que me proporcionaram.
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Prova difícil segundo o índice IBP |
Começa pelas Partidas. No movimento running não há cá hierarquias e muita gente embora sabendo que sistematicamente se classifica no último terço insiste em partir da linha da frente. É o primeiro obstáculo a ultrapassar. Neste Vaiamonte - Monforte até nem foi das piores partidas.
Parti cauteloso e cauteloso continuei. Sou de cautelas, é o que me safa e mesmo assim nem sempre me acautelo o suficiente, que os obstáculos a ultrapassar surgem de todos os lados e quando menos os esperamos. Após alguns metros com o regressado António Costa que, pasme-se, já é M40, que idade não terei já eu (?), o melhor é nem perguntar, entrei no meu ritmo e na primeira fase bonita da prova, até cerca de metade. Boas marcações, trilhos corríveis mas exigentes e dou comigo outra vez na disputa da corrida ... feminina ... entre lobas! Endiabradas a Ana Miranda, a Mariana Leirinha e a Carla Semedo que competiam entre si de forma generosa e comprometida. Como o Desporto pode ser lindo quando as pessoas o assumem descomplexadamente, como estas jovens. Dão o máximo porque assumem o jogo mas sem tiques de coisa nenhuma. Corredoras, simplesmente corredoras. Não sabia em que lugar ia no meu escalão M55 e não me importava ... mas ia a gozar a oportunidade de assistir a cada pormenor da frente da corrida feminina. Por apenas 15 € de bilhete, todo um espectáculo.
Paro no abastecimento, elas nem param, passo pela Vitorina que está presentemente parada a tratar uma mazela, nem me via só puxava por elas. Tive que regatear a minha dose de incentivo. Também preciso!
Tudo corria lindamente até chegarmos ao estradão que liga Vaiamonte ao empreendimento turístico Torre de Palma Wine. Terá sido pelo wine em demasia no cérebro de alguém, terá sido por malvadez pura e simples que os tempos vão propícios para impunes demonstrações públicas de estupidez e maus instintos, no local mais improvável para enganos desapareceram marcações e, sobretudo numa prova nocturna, facilmente se destrói a moral de quem passa dum ritmo frenético para a procura do caminho por onde seguir. Mais adiante as marcações aparecem de novo com o bom padrão de marcação que tiveram ao longo de toda a prova mas, na entrada na propriedade já citada, duas cancelas iam sendo sistematicamente fechadas sempre que alguém as transpunha. Tive sorte no meu ajuntamento. Alguém mais perspicaz viu os reflectores além das cancelas, lá as abrimos e seguimos, de novo com a moral destroçada. Antes e logo após, soube-o por relatos de outros concorrentes, as cancelas voltaram a ser fechadas e as marcações dissimuladas. Houve quem fosse parar ao lodo de uma charca que estava nas imediações. A quem interessa estes procedimentos? Será que não gostam de ver Monforte invadida por centenas de pessoas que lá vão deixar sorrisos, gargalhadas e dinheiro?
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Nove subiditas com mais de 15% de inclinação. O Alentejo não é plano! |
Não vou tecer grandes críticas à Organização mas de facto não esteve bem em vários pormenores técnicos importantes. Quis fazer uma coisa em grande em aspectos paralelos e terá sido ultrapassada pela dimensão do que quis criar. Mas isso são amendoins. Da minha parte toda a força para meterem ombros a uma terceira edição. Reúnam mais gente boa que a há por certo em Monforte e mostrem a quem não presta que realmente não presta. Obrigado pelo empenho e pela pequena aventura que me proporcionaram.
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