Proença entre fogo e água

No final de julho o concelho de Proença-a-Nova viveu horas de angústia devido aos incêndios e foi também com alguma angústia que pulei da cama às 5:30 da madrugada para rumar ao Trail Longo (26 Km D+1200 m) da Taça de Portugal de Ultra Trail. O trail stressa-me sempre um pouco quando vou para locais que não conheço, a perspectiva era de temporal durante toda a manhã e como o esqueleto não tem parado FDS após FDS na verdade apetecia-me mesmo era ficar na caminha. Não o fiz. Ainda bem que não o fiz.
A Partida para o evento foi dada em Montes da Senhora às 9:25 e nem frio nem chuva. Apareceriam uns pingos um pouco depois, cessariam e voltaria em força no último quarto de hora, já a antecipar um belo banho de água fria com que a Organização nos mimou no final. Pensava levar 3 h a fazer a coisa mas na verdade precisei ainda de mais um quarto de hora para o conseguir. Parti logo atrás das saitas rosa da minha Maria e da Ana Vintém e durante os primeiros 5 Km vi-me a alcançá-las e seguir com elas. Pura ilusão.
Saias cor-de-rosa. Bem bonitas. Mas, apanhá-las!?
Tudo se desvaneceu após a primeira descida técnica: o sonho de tão agradável companhia e o sonho de uma prova com boas sensações. Comecei a sentir-me extenuado e a meio da prova, cerca dos 14 Km, no último ponto de abastecimento ia mesmo decidido a aproveitar a presença do José Moisés para me meter no carrito e ala para casa que já foi um bom treino.
A pensar no que fazer à vidinha! (foto José Manuel Bué)
Mas a cabeça começou a remoer. Ainda não morreste. Ainda vem muita gente atrás. Entras constantemente no Portal da ATRP - excelente agora! - e lá continuas sem um pontinho que seja para o Ranking e agora vais panisgamente desistir, etc, etc, e patocas ao caminho de novo.
Subi às eólicas sozinho - de olho atento que as fitas de sinalização tinham boa cor mas eram pequeninas e foram colocadas com muita parcimónia -, enfrentei a longa e ventosa reta das eólicas sozinho e sozinho comecei a descer já com a meta no pensamento. As amigas cãibras já tinham dado sinal e deram-no em definitivo ao saltar um ribeiro. A partir desse momento foi gerir ainda mais. Alcancei o Nuno Granadas que ia também a gerir, lá fomos conversando e já no final da descida passa por mim a Almerinda que nem um foguete! Eram já 4 as lobas à minha frente. Andam endiabradas na tentativa de conseguirem destaque entre a elite nacional.
Alcateia celebrou vitória de Luis Semedo na Taça de Portugal
A prova não é fácil, não é difícil, não é bonita, não é feia, enfim é uma prova cinzenta como o dia. Feliz, feliz fiquei de ver os ribeiros e linhas de água a cavalgarem furiosas. Sentisse eu a força delas e outro galo teria cantado. Feliz, feliz fiquei de ver o desempenho dos meus colegas de equipa, nomeadamente a daquele miúdo iniciado que em 2002 descobri num corta-mato escolar em Arronches sequinho, sequinho, só fibra.
Eu que nunca costumava abordar ninguém naquele dia tive um clique. Em boa hora o fiz. Hoje em dia o Luís Semedo é uma referência neste desporto de moda, o Bruno Paixão é uma referência na corrida, corrida propriamente dita e assim se prova que os valores valem ... a longo prazo.
Vitorina, a mais bonita do pelotão não tem prazo de validade!
Para terminar com o Longo Prazo não há maneira de descobrir o prazo de validade da Vitorina. Na quarta-feira arrastara-se num leve treinito por trilhos que efectuáramos na encosta da Frazoa, ontem disparou para a frente da corrida feminina onde disputou os primeiros lugares até ao final. Acabou 4ª da Geral e vencedora do escalão. Há uma qualquer magia num Tiro de Partida para uma prova que funciona na perfeição com ela e muito pior comigo. Mesmo assim ainda subi ao pódio: 3º M55. No próximo domingo Nacional de Corta-Mato em Monforte. Parar é morrer!
3º M55. Já não aparecerei em branco no Ranking da ATRP! (foto de José Manuel Bué)
Dorsal desbotado: o melhor troféu! 


A correr com tudo! 

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