Não vi cegonhas no Trail de Nisa

Mal tinha chegado a casa e aberto o computador e já o Messenger tilintava. O amigo José Gonçalves, um dos melhores fotógrafos nacionais do trail running enviava-me algumas fotos dos milhares que vai disponibilizar do seu site e, entre elas, a que encima este artigo. Um bloco de apartamentos de cegonhas tão típico do nosso Alto Alentejo e que para mim funciona como um sinal de que estou em casa, na zona de conforto. Não o vi. Não vi cegonhas hoje na 4.ª edição do Trail Vila de Nisa. Mas que vi eu hoje na terra dos bordados em bilhas de barro?
Vi-me a sair da zona de conforto e a não me importar. Verdade, verdadinha que estava desejando sair do alcantilado dos 10º e 11º Km a seguir à Senhora da Graça. Curvas e contracurvas rumo ao céu deixavam-me apreensivo. Acho que ainda não acredito que a Terra é redonda e temo chegar ao fim do trilho e deparar-me com um precipício para ... Saturno! Mas os trilhos que o pessoal da INIJOVEM vai descobrindo entre Nisa e a Serra de São Miguel são qualquer coisa. Nunca é por acaso que se reúnem 500 pessoas num evento. A qualidade faz a diferença.
Para mim a prova acabou aos 5 Km. Parti prudente, hoje nem nunca me passou pela cabeça mãozinhas dadas à Maria - que já asada voou quase a fazer 53 primaveras para uma vitória absoluta entre 93 concorrentes - mas aos 5 chegava-me à Ana Miranda na companhia do Paulo e até começava a acreditar que conseguiria correr ao meu nível. Mas não deu. Assim que começaram os trilhos técnicos foi tentar sobreviver. Sobrevivi. Cheguei à Meta dos 16 K D+600 m após 1 h 54 m 54 s em 103º de 325, a 35' do camarada Nuno Paiva que venceu, mas 2 h 10 antes do último. Longe de ser ultíssimo portanto continuarei enquanto der. Ainda por cima chamaram-me ao pódio para receber uma bilhinha por ter sido 3º M55 e fiquei logo a pensar que também sou craque e esqueci-me do que penei para chegar à Igreja do Calvário. Um calvário!
Quanto à prova - e falo apenas pela distância curta, a que fiz - está fabulosa e pensada por quem corre e vai somando experiências. Primeiros Km a permitirem correr e estender o longo pelotão e, depois, obra para o pelo. Trilhos fabulosos, técnicos, pontes artesanais que hoje ninguém molhou o pezinho e choveu - graças a Deus! - de véspera, abastecimentos mais que o necessário, e um desenho de prova que levou os concorrentes por trilho até à entrada da vila que aconteceu pelas ruelas mais carregadas de história e é isso que a malta quer, um pouco de magia para alegrar os dias. Ontem aproveitara o dia chuvoso e a necessidade de curar rapidamente a forte constipação que me tem afetado nos últimos 10 dias para um dia de choco a papar séries de vikings no Netflix. Cheguei à noite julgando-me um guerreiro capaz de degolar qualquer um; hoje, já curado, fui para a batalha. Não degolei ninguém mas também não saí degolado. Pronto pois, para a próxima. Venha ela!
Nota: a Maria terminou na 46ª posição (1ª feminina) com 1 h 41 m 34 s. Por muito que estendesse o braço não conseguiria dar-lhe a mãozinha.
Resultados completos do IV Trail Vila de Nisa uma Organização da INIJOVEM.
Trilhos magníficos em Nisa! (foto de José Gonçalves)

A Maria sempre a sorrir ... com o seu sorriso genuíno (foto de José Gonçalves)

Acabei com a língua de fora (foto de Paula Maurício)
Parte da Alcateia presente em Nisa. Esta malta puxa por mim! (foto de Paula Maurício)

3º M55, bom, bom, é correr ainda aos 55! (foto de João Fernandes)


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