Caldeirada em Castelo de Vide

Luta dura pela vitória em M50 em que a entreajuda
foi a principal arma (foto de António Manso editada)
Começo por referir que adoro caldeirada, sobretudo quando ela é confeccinada com muito amor e carinho pela master chef cá de casa, que tem dotes para muita coisa e também para a cozinha. Caldeirada em Castelo de Vide porque a segunda edição da night run realizada ontem misturou um pouco de tudo e resultou num pitéu com tanto de saboroso como de digestão difícil. Partida da Praça D. Pedro V, voltinha inicial pela Carreira de Cima - como os esplanados nos mimaram com a indiferença ao ver passar aquela centena e meia de tontinhos em calções e de frontal na testa :( - e metemos logo por ruelas e escadinhas e empedrado e curva e contra-curva e sobe-e-desce constante. É disto que detestamos numa corrida, foi para isto que lá fomos! Descemos até à variante e nela seguimos por uma milha sempre a subir.
A tranquilidade de quem é lobo ACP (foto de Diana Romão)
Aqui a vontade também ainda ia em subida mas o meu longilíneo 1,83 m não se dá muito com subidas e com carrosséis. O final tenderia a ser penoso. Desde início que seguia com o meu companheiro de prova, o cartaxense Fernando Silva, que não sabia ao que ía mas que ficou estupefacto quando da negrura da noite e do frontal que não levava, se apercebeu que o companheiro de ocasião que lhe ia dando dicas e o alumiando, afinal era o adversário directo para a vitória em M50. Lá lhe disse que isso me interessava pouco, lá lhe disse que aquilo que lhe parecia um trail afinal não era bem um trail, lá o ia informando das dificuldades que iam surgindo e que eu conhecia. Não as conhecia a todas e já ultrapassada a volta à primeira pista de atletismo do Alentejo que tanto trabalho me deu antes de ser construída e na primeira década da sua existência, já na Praça Alta após passagens por azinhagas completamente às escuras toca de voar pela escuridão abaixo para 1 Km em 3 m 45 s. Eh, pá, estão a crescer-me asas! Sete Km percorridos faltam 3, apenas 3, mas eu bem sabia que caldeirada pode tornar-se indigesta. Segmento Strava Senhora da Vitória > Penedo Monteiro - raios o partam que se me foi o fôlego mal o terminei! - e, depois, 2 Km de voltas e voltinhas pelo castelo. Empedrado, pilha que cai, agacha-te e apanha-a e nunca mais chega a última colherada da caldeirada - cá em casa papa-se toda, nunca sobra -, que é como quem diz as ruas de São Pedro e de Baixo, com o seu corredor central qual tartã a desafiar-nos para um longo sprint final. O meu companheiro de ocasião estava sem saber o que fazer, apetecia-lhe ganhar mas envergonhava-se de me abandonar depois de se ter servido e eu também evitei aplicar a minha ponta final Mo Farah que teria dado para decidir quem subiria ao degrau mais alto do pódio. Chegámos lado a lado mas ganhou ele. Ganhou ele, ganhei eu e ganhámos todos. Quem, por estes dias, anda desiludido com a prestação dos nossos atletas nos JJOO do Rio sabe lá o que é desporto e o que nele é verdadeiramente importante. O importante são estas caldeiradas que a todos satisfazem. Umas palavras finais para a competente Organização da Associação Desportiva de Castelo de Vide que cozinhou tudo muito bem, para o facto relevante da participação feminina ter sido maior que a masculina (73/60) e para o ambiente agradável em torno do evento que reuniu essencialmente pessoas de Castelo de Vide e de Portalegre mas que tem potencialidade para atrair muito mais gente. Festas e festinhas por todo o lado, outras provas concorrentes nas proximidades e um Verão tórrido que coloca no defeso os praticantes de vontade menos férrea não ajuda muito a uma maior participação. Mas, por mim, a caldeirada está muito bem assim. Podendo, em 2017 repito a dose!

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